texto e curadoria por Loly Demercian
Com inegável sensibilidade, Gonzalo Torres desenvolveu um conceito extraordinário de criação artística. Influenciado pelo artista plástico Alejandro Obregón Rosés, seu olhar voltou-se para a miséria mais especificamente para as pessoas solitárias e abandonadas nas ruas das grandes metrópoles. Usa cores tonais baixos às vezes com pinceladas sutis de vermelho evidenciando uma cena que é a realidade vivida. Envolve o espectador no próprio mundo do quadro como se entrasse em suas cores e formas apoderando-se das figuras do personagem ali registrado como que esperando uma resposta para sua fragilidade no mundo das grandes metrópoles.
Gonzalo consegue criar, num espaço quase sempre contínuo e sem fissuras, o universo que, embora sempre inquietante e repleto de personagens misteriosos, consegue, de uma maneira peculiar, com pinceladas fortes, com dor, como um grito, destacar da própria subjetividade a coerção do consciente. Artista expressionista que é, Gonzalo ao invés do embate com a realidade caótica e fragmentada da vida contemporânea, volta-se, à procura da liberdade, para sua realidade. Aí reside sua sensibilidade, isto é, a pobreza de espírito em que não permite a configuração da intimidade, a solidão surreal em que vivemos. Como dizia Proust: “Essa relação entre as obras e suas reproduções, não é simples, nem mecânica. Nem reproduções são apenas veículos que transmitem, como podem, a essência do original”.
texto por Gonzalo Torres
Cada obra pintada representa uma parte do interior do ser humano; representa o povo, que, ao longo das últimas décadas, atraídos por uma proposta de mudança de vida nas grandes cidades, na criação de empregos, melhor educação e etc, têm deixado seus lugares e transformado-se em estranhos. E há um choque cultural tão devastador nisso que se convertem em seres dispostos a ser tudo para ganhar um espaço nestes mega centros urbanos.
Para ganhar um pouco de respeito e não cair na marginalização, dirigem-se e aglomeram-se nas periferias das cidades; começam a lhes chamar de invasores. Como se não bastassem as dificuldades diárias para conseguir comida, enfrentam problema com drogas, prostituição e violência. O abandono do Estado é tão grande em relação à migração que, segundo estudo da ONU, em 2030 a aglomeração nos centros urbanos passará a ser de 81% da população total na América Latina; mais que a população urbana inteira da Europa.
Esta grande ilusão de melhorar a vida que oferece o sistema capitalista atual, para a maioria, está se convertendo em pesadelos, que extravasam o espírito, fazendo com que se tornem pessoas egoístas, doentes, sem nenhuma humanidade.
Quando se fica em frente a uma das obras, o apreciador se depara com um espelho que reflete o verdadeiro ser que tem dentro de si. É quando se descobre que isso são ilusões que um dia lhes prometeram sobre melhorar suas vidas e trazer felicidade. Estas obras de arte saem das profundezas do inconsciente e criam um ambiente onde se pode revelar ao público todas essas questões, colocando o questionamento: até onde se cede para satisfazer o capricho de uma sociedade completamente voltada para o consumismo e para a exploração humana, que não mede as consequências em nossa sensibilidade e em nossa verdadeira natureza das almas compassivas?
Gonzalo Fonseca Torres é artista plástico, nascido em 1976, em Santa Rosa de Viterbo, na Colômbia. Possui formação acadêmica na Colômbia (1998) e na Suíça (2000-2006), pela Escola de Artes Visuais Pierre Moor e pela Oficina L’arrêté Creation, ambos em Yverdon-Les-Bains, além de outros cursos em artes visuais e arte terapia. Vive no Brasil desde 2010.
Apoie a Trama e nos ajude a continuar crescendo!
Fazer uma doação mensal
Fazer uma doação anual
Escolha um valor
Ou insira uma quantia personalizada
Agradecemos sua contribuição.
Agradecemos sua contribuição.
Agradecemos sua contribuição.
DoarDoar mensalmenteDoar anualmente
Muito obrigado por o artículo …
CurtirCurtir